terça-feira, 20 de setembro de 2011


São Paulo, 17 de Setembro de 2011
Enigma Olímpica
Boa parte dos corredores de aventura , principalmente os amadores, conhecem de longe a expressão “O que é que eu estou fazendo aqui?”. A pergunta fatídica geralmente aparece numa situação de estresse, grande dificuldade física ou de algum obstáculo difícil de transpor. Mas e quando a clássica perguntinha aparece antes mesmo da largada ou pior dias, semanas antes da largada?
No novo tempo verbal, “O que é que vou fazer lá?” foi mais ou menos a sensação que tive logo depois de aceitar o convite da equipe Enigma para mais uma aventura. Desta vez uma nova categoria do meu tão amado esporte, mas numa versão que sempre rezei para não existir. Não pela ausência de qualidade ou pelo formato, mas por um aspecto pessoal e de perfil físico, sempre preferi provas com distâncias maiores e que pudesse aproveitar o visual e respirar.
Respirar foi o que menos consegui fazer na Aventura Olímpica, lançada pelo Adventure Camp, na noite de sábado do dia 17. A proposta de fazer uma versão com curtos trechos de corrida, canoagem, montain bike e técnicas verticais parece bem atrativa para atrair novos participantes, incluindo talvez alguns triatletas que têm um lado mais rústico. Interessante também para familiares e amigos, que querem entender e acompanhar os seus já praticantes do esporte. Proposta válida e aparentemente aprovada pelas dezenas de participantes que enfrentaram o frio daquela noite na Raia Olímpica da USP.
Ambiente promissor para o esporte, porém cansativo para mim que sem preparo físico para explosões entrou nessa com três malucos, que adoram um coração na boca. Apesar do descompasso físico e, quem sabe mental, eu estava lá na largada gélida, noturna e já faminta, uma vez que eram mais de 21h e ainda não tínhamos jantado.

Depois da contagem regressiva, quartetos e solos largaram para a natação de cerca de 100m, em que o Léo foi escalado para a roubada. Entre os primeiros colocados, logo ele voltou do aquecimento molhado e se juntou a nós para os 2km de corrida – do tiro eu diria – até a canoagem no outro extremo da raia olímpica. Importante frisar que, o tempo todo, os três me ajudaram no reboque e na manutenção do ritmo. Com o coração no cérebro, já que da boca ele tinha passado há tempos, consegui entrar no barco, depois que o Gu escorregou barranco abaixo até conseguir entrar no barco. Remamos com muita dificuldade, enquanto o Ricardinho e o Léo pareciam passear na sincronia da remada.
Passamos por alguns PCs e logo – o que parecia uma eternidade – atingimos o ponto de saída da água para partimos de bicicletas. Foram duas voltas na raia, sendo a metade em asfalto e a outra na trilha demarcada, gramada, cheia de erosões e altas raízes. Com pneus finos, conseguíamos ganhar velocidade no asfalto, porém reduzíamos e muito na terra com a perda de tração e um pouco pela queda espetacular e cabeçada num tronco do Ricardinho. Como sempre sorrindo, mesmo com os sustos e talvez alguma dor.














Deixamos as magrelas sob vários incentivos de amigos e familiares, coisa rara nas corridas de aventura, já que normalmente estamos no meio do mato ou em lugares de difícil acesso. Mais uma corrida, desta vez com o coração querendo sair pelos cabelos, com intervalo para uma ascensão numa rede de cordas e descida de rapel para o Ri e pra mim e uma pista de special test para o Gu e o Léo. Mais uma queda do Gu, que adora colecionar ralados e roxos, e logo estávamos os quatro reunidos de novo para corrermos/voarmos em buscar de mais alguns PCs.
Mais um tiro até a chegada e, já sem forças, a comemoração com as 10 flexões Selva.
Experiência nova e trabalho em equipe fantástico. Valeu Enigma por mais essa roubada divertida!

Lilian Araujo

quinta-feira, 15 de setembro de 2011


                   Enigma Selva Aventura no Ecomotion 2011

Postado por Lilian Araujo em 21 abr 2011 | Ecomotion Pro 2011

Sono, trabalho, fome, sono, trabalho, fome…

Em meio aos meus atuais obstáculos fisiológicos e profissionais, tento escrever um relato após uma semana inteirinha de aventura no Ecomotion Pró – Costa do Descobrimento. Entre um bocejo e outro e um milhão de pendências e outra, tento recordar cada passo das centenas de quilômetros que percorremos no extremo Sul baiano.


frente: Juliana, Ricardo, Diogo, Lilian e Gustavo. atrás: André e Thiago


Lembro da brincadeira ter começado meses antes, quando fui convocada para completar o time da Enigma Selva Aventura, até então formada apenas pela parte masculina da equipe: Diogo Rehder, Gustavo Foronda e Ricardo da Ponte, ou para simplificar com o vício paulistano dos apelidos simplesmente Di, Gu e Ri. Equipamento obrigatório contratado (euzinha), períodos longos de treinos, alguns imprevistos pelo caminho (todos superados, claro!) e enfim a equipe estava formada.





Com tudo pronto, era hora de embarcar na aventura!
Embarcar neste caso no sentido literal de ingressar numa embarcação. A nossa, aliás, era uma escuna, na qual demoramos um pouco para entrar e acabamos perdendo as poucas opções de colchonetes disponíveis. Dos males o menor, já que pelo menos conseguimos espaço suficiente no chão para deitarmos sob uma parte coberta por lona e sobre um pedaço de EVA emprestado pela nossa equipe co-irmã Ekos. Outras equipes, no entanto, infelizmente ficaram na popa ou proa totalmente descobertos, inclusive alguns apenas sentados, sem qualquer chance de esticar as pernas. Passamos a noite em alto-mar, inicialmente iluminados apenas pelas luzes da Lua e das estrelas, que pareciam nos dar boas vindas. O sono leve, provocado pelo desconforto, acabou interrompido quando a chuva da madrugada começou a cair, chuva esta que se repetiria todas as noites seguintes.



Ekos


Com o dia amanhecendo, fomos despertados por outro barco, que trazia uma comitiva de membros da imprensa e da organização, prontos para dar a largada. O organizador avisava “Equipes, estejam prontas rapidamente para assumirem seus caiaques”. Ao mesmo tempo em que se alinhavam para descer da escuna e entrar nos caiaques, todos comiam e bebiam o desejum que cada um levara para a ocasião. Mal lembro da nossa refeição, talvez algumas bisnagas recheadas com não sei o quê, Gatorade (aliás, a bebida foi gentilmente cedida fartamente pelo fabricante para nossa equipe, junto com muitos energéticos Fusion) e água.


“Equipe 10!”


Opa, nossa vez de entrar no caiaque. Descemos o Gu e eu primeiro e depois a segunda dupla. Esta era nossa formação para a canoagem.








Largada



Com todas as equipes a postos num banco de areia em algum lugar do oceano Atlântico, ficamos fora do barco e em pé à espera do helicóptero de filmagem e do tiro de largada. As imagens foram devidamente captadas, porém o revólver luminoso falhou uma, duas, três, quatro vezes, até que alguma equipe resolveu iniciar a prova e todas a seguiram sem que a largada oficial e cinematográfica acontecesse.


Alguns caiaques, embora de plástico rígido, simplesmente estavam furados, prejudicando algumas equipes, inclusive a Selva Kailash, nossa outra equipe co-irmã, a mais forte e com chances de melhor colocação das três equipes Selva.
Remamos, remamos e remamos, por cerca de 15 quilômetros, entre mar e rio, até chegarmos à Prado, município que parece disputar com Porto Seguro pelo direito de descoberta oficial do Brasil pelos portugueses.




Sem entrar em méritos históricos de colonização, saímos de Prado pedalando após uma rápida transição com nossos queridos apoios Thiago, André e Juliana. Eles seriam nossos anjos-da-guarda pelos dias seguintes, sendo responsáveis tanto pelo transporte dos equipamentos, alimentação e cuidados médicos como principalmente pelo incentivo moral e reforço nos ânimos da equipe em momentos difíceis.

Bike Escaldante
O calor já estava insuportável no trecho de bike. Foram cerca de 34 km com algumas subidas, tudo muito sofrido por conta do calor e areia que dificultavam nossa progressão. Um pouco abatidos e tentando administrar o esforço, recebemos uma super injeção de ânimo do Caco e da Selva, que tentavam recuperar a queda para a última colocação provocada pelo caiaque furado.




Já em Cumuruxatiba, gritávamos “ENIGMA! ENIGMA! ENIGMA! ENIGMA!” e nada. “Onde estão os apoios? ENIGMA! ENIGMA! ENIGMA!” e nada. Apesar da consciência de que a prova estava apenas começando, a adrenalina era tanta que agíamos como se estivéssemos numa prova curta. Queríamos trocar de modalidade, queríamos entrar logo no trekking seguinte de 80 km, queríamos aproveitar ao máximo a luz do dia para navegar, mesmo que isso custasse um esforço físico a mais. E assim fizemos, logo depois finalmente encontrarmos nossa base de apoio, onde nos alimentamos, cuidamos dos pés e carregamos as mochilas o quanto pudemos com comida e água, suficientes para pelo menos 20 horas de caminhada.




Trekking Looonnggooo


Saímos para o trekking com a Ekos debaixo de um Sol escaldante, a ponto de fazer o Diogo vomitar o pouco que tinha conseguido ingerir na transição. Seguimos praticamente juntos até uma bifurcação, onde cada equipe escolheu uma entrada. A nossa, nos levaria à praia, por onde a maré baixa nos permitiu impor um ritmo razoável. As falésias e a maré alta teriam nos obrigado optar por outro caminho, mais longo e que exigiria mais atenção na navegação.





Seguimos em frente. O ponto de passagem seguinte, seria em Corumbau num PC-V (posto de controle virtual), em que precisaríamos responder a pergunta “Qual a cor da porta do farol?”. Ansiosos pela resposta, repassamos a questão para moradores locais, que prontamente nos responderam: “VERDE!”. Apesar da resposta já conhecida e de normalmente PC-V não terem fiscais da organização, seguimos nosso destino até o farol. Lá confirmamos a resposta, fotografamos o farol e cumprimentamos surpresos o fiscal da organização que checava a passagem dos quatro elementos da equipe pelo local.




Com o retorno por cerca de 4 km pelo mesmo caminho da ida, encontramos algumas equipes, conversamos e dividimos o ritmo com a Papaventuras/Família Extrema, cumprimentamos e seguimos nosso rumo para uma trilha com cara de duna já com o dia caindo. Nos últimos raios de luz, pegamos nossas lanternas, nos alimentamos e cuidamos dos pés e das bolhas que começavam a aparecer. O longo trecho plano que incentivava o ritmo mais forte, a areia e os rios que não deixavam os pés secarem se transformaram nos vilões que a partir dali começavam a definir o quão sofrida seria a prova dali para frente.

Noite adentro, paramos mais algumas vezes para cuidar dos pés, cruzamos com algumas equipes e com algumas figuras inusitadas que surgiam no meio do nada. O caminho aparentemente pouco frequentado nos fez encontrar primeiro com duas pessoas em uma moto, que carregavam no pescoço colares gigantes de miçangas vermelhas, como se estivessem a caminho de um trabalho importante de umbanda ou qualquer ramo semelhante do espiritismo. Logo em seguida outros dois com seus enormes facões ou peixeiras e para fechar a noite outros dois com espingarda no ombro e munições suficientes para uma caçada profissional. 



Cumprimentamos todos e continuamos nosso caminho. Primeira noite e pouco cansaço nos permitiram uma navegação impecável. Passamos pelo segundo PC-V, contamos os degraus da igreja de Boca da Mata, fotografamos e aproveitamos para comprar um miojo grudento no único boteco que insistia em recepcionar aquele bando de gente estranha que passara a madrugada toda por ali. Estranho também notar a presença da equipe Oskalunga, forte pré-candidata ao pódio, mas que se amontoava no chão do bar, tentando dormir enquanto as equipes de passagem falavam sem parar. Dormir na primeira noite e ainda sendo uma equipe de ponta indicava que estavam realmente com problemas.


Seguimos até atingirmos a base do Monte Pascoal já no crepúsculo. Subimos até o cume, cruzando com várias equipes que tentavam dividir a estreita, íngreme e escorregadia trilha. Assinamos o PC e começamos a descida, cheia de obstáculos, com direito a um assustador escorregão do Gu morro abaixo e um ataque de formigas de presente pra mim. Checagem de membros no lugar, todos inteiros, bora descer pois os apoios estariam a poucos quilômetros dali.




Recepção
Após uma longa noite chuvosa, lamacenta e literalmente alucinante – já que o Ri e eu avistamos ao mesmo tempo uma fábrica com silos e tubos gigantes no meio do nada – finalmente reencontramos nossos apoios. A recepção foi digna de famosos, já que nossa chegada acontecera ao mesmo tempo que toda a equipe de imprensa desembarcava do carro da organização. Muitos flashs e muitas entrevistas para redes de televisão e rádio. O Diogo estava realizado! Apesar de não responder nada do que era perguntado, ele provavelmente estava se sentindo como vencedor de um BBB. Uma figura!!!
Nossa transição foi um verdadeiro choque. Nossos equipamentos, alimentos industrializados e roupas tecnológicas estavam devidamente distribuídos na minúscula sala de uma casa de pau a pique de propriedade de uma família indígena, praticamente aos pés do Monte Pascoal. Com a chuva constante, os apoios foram convidados a usar o espaço, ocupados por nós posteriormente e onde pudemos rapidamente conhecer a dura realidade das crianças da casa que olhavam curiosos nossa rápida transição.


Lama maldita

 Agradecemos a hospitalidade e saímos pedalando debaixo de uma forte chuva, porém felizes com a possibilidade de descansarmos os pés do duro trekking anterior. No entanto, a alegria durou apenas pouquíssimos quilômetros, até que a lama argilosa tomou conta de todo o caminho. Como nossas magrelas têm a suspensão muito próxima ao pneu, era praticamente impossível empurrar. A cada giro da roda era uma parada para tentar tirar parte da lama com as mãos.




No caminho, encontramos um pequeno lago. “Ufa! vamos lavar as magrelas”. O Gu lavou a dele e logo em seguida foi minha vez. Tirei a mochila pra descansar as costas e comecei a esfregar a argila grudenta. Enquanto eles seguiam, tentei tirar o máximo da lama, o que teoricamente deixaria a bike mais leve para carregar. A Bárbara, da Oskalunga, passava nessa hora, então aproveitei para perguntar se tinha alguma dica para aliviar nosso esforço. Ela respondeu: “É isso mesmo, tem que tentar limpar”.






Triste pela fórmula nada mágica, coloquei a bike nas costas e segui para tentar encontrar os meninos. Conseguimos pedalar alguns metros, bike nas costas de novo e uma ladeira imensa à frente. Lá no topo, já exausta, desci a bike dos braços e senti… Um gelo percorreu minha espinha, uma raiva subia à cabeça quando virei e falei quase engasgada: “PQP, esqueci minha mochila láááá atrás e estou voltando pra buscar”.

Ué, a mochila sumiu!!!!


Acho que os meninos queriam me fuzilar quando trocaram olhares. Costumo ser muito avoada mesmo, mas sei que é praticamente imperdoável ter que voltar um trecho tão duro, com as bicicletas com quilos a mais de peso da lama. Fora isso, a argila chegava a arrancar as sapatilhas dos nossos pés já tão sofridos com bolhas.

Dei apenas alguns passos voltando para a mochila, quando o Ri prontamente falou: “Eu vou buscar. Fica aí!”. Quase chorei de gratidão, pena e remorso pelo meu erro.
Continuamos nosso martírio por todo o trecho, desviando apenas alguns metros por um pasto. Calculo que dos cerca de 33km do trecho, pelo menos 20km tenhamos carregado as magrelas/obesas nas costas. Uma tortura para os pés, corpo e mente.


Ricardo se esbaldando no efluente de uma fazenda


Exaustos, subimos uma ladeira quase colados na Oskalunga novamente. Conversei novamente com a Bárbara, que parecia triste por estarem atrás. Em poucas palavras ela resumiu: “Estamos fora da prova. Agora vamos só passear”.


Água da sorte!


Paramos os oito num bar que não vendia nada além de cerveja. O gentil senhor nos cedeu uma garrafa d’água, que dividimos entre as duas equipes. Ao passar a garrafa para o capitão da Oskalunga, Lico, o Diogo ainda brincou: “Essa água é que vai fazer vocês ganharem”. Apenas um sorriso amarelo em resposta, então seguimos nosso caminho enquanto eles ainda ficaram aproveitando a escassa sombra do lugar.


Mais trekking


Transição fantástica em Itamaraju, com direito a banho na praça e almoço no coreto. Mochilas reabastecidas, bastões em punho e seguimos para mais um trecho da prova que já parecia um duathlon. Nesse ponto soubemos que a organização havia cortado alguns trechos de remo e bike da prova, o que significava mais uma vez que não teríamos descanso para os pés tão cêdo.




Caminhamos já lentos pelos pés judiados. Alguns quilômetros de asfalto até a entrada da trilha e uma pausa para fotos mais uma vez. Fomos ultrapassados por algumas equipes, e de novo pela Oskalunga. 


Entramos na trilha de subida para um ponto denominado lajeado, mas já cansados acabamos errando uma entrada. Subimos, subimos e subimos até que a trilha sumiu. Descemos tudo de novo para recomeçar o caminho, cruzando com muitas equipes – de novo com os quase desistentes que já desciam do PC – e acabamos acompanhando os que subiam até o topo da trilha certa. Apesar da noite já caída, a vista era linda. O céu iluminado pela Lua crescente nos permitia ver ao longe as cidades ou vilas que circundavam o pico da antena em que estávamos.

Na volta lenta pelas bolhas doídas, encontramos mais uma vez e pela última vez a Ekos. Uma alegria imensa vê-los sorrindo na trilha, apesar de também estarem cheios de bolhas e com muita dor. Nos abraçamos, sorrimos e cada um seguiu sua rota novamente.



O cansaço da segunda noite já quase nos dominava. Tentamos por mais de uma hora tentar achar a trilha que nos levaria ao próximo PC, mas em vão. Sobe, desce, sobe e desce e nada. Subimos de novo, até uma pequena casa, onde deitamos, dormimos cerca de uma hora e pela primeira vez desde a largada dois dias antes.

Acordamos revigorados, com o Diogo já sabendo onde era a entrada correta da trilha. Partimos para quilômetros mais – na chuva, é claro!- , lentos, porém constantes. Caminhamos a noite toda até o PC seguinte numa pequena vila, onde finalmente reencontraríamos os apoios e as magrelas renovadas. Para nossa tristeza, mais uma vez a prova tinha sido alterada. No lugar da alegria de trocar de modalidade, a dura notícia de que tínhamos mais sete quilômetros de trekking até os carros. A organização julgara que este trecho da estrada não estava em condições para a passagem dos carros. Na nossa lentidão provocada pelas dores pudemos conhecer cada milímetro do trecho e concluímos, nas duas horas que levamos para percorrer os sete quilômetros extras, que qualquer carro poderia sim passar por aquela estrada. Enfim, manda quem pode.



Finalmente um trecho de pedal de verdade
Tentamos fazer uma transição rápida, pois o dia seria decisivo. Além dos 64km de bike – incluindo os 7 do bônus anterior – teríamos na sequência mais um trekking de uns 30km. Deveríamos percorrer tudo até a meia noite, horário de corte da prova.
Chegamos logo pela manhã na transição. Tentamos fazer uma troca rápida de modalidade, na esperança de aproveitarmos bem o dia. Não cuidamos dos pés, mal nos alimentamos e logo saímos pedalando.

As sapatilhas quase não entravam mais nos pés. Abri os cadarços o quanto pude, gemi para encaixar cada pé e subi na bike decidida a descer apenas no fim dos 64km.
O trecho de muitos desníveis somado ao forte calor dificultou um pouco a progressão. Para ajudar – ou piorar – um descuido na navegação fez com que descêssemos errado uma ladeira imensa. Lááááá embaixo o Gu pergunta para uma moradora: “Aqui é São Paulinho?”. Resposta: “Não moço, São Paulinho é subindo essa ladeira aí”. ‘Essa ladeira aí’ era por acaso a mesma que tínhamos descido a toda velocidade de tão íngreme que era. Respira fundo, olha um para o outro, ninguém solta nenhum comentário e bora subir rumo à São Paulinho, que ficava a mais de 15 km dali.

Calor imenso, muitas subidas e descidas até que finalmente chegamos à receptiva São Paulinho. Embora fosse apenas um ponto de passagem, fomos recebidos com festa pela criançada local e pela dona do mercadinho que nos vendeu uma Coca e que fez questão de não cobrar a água gelada.
De volta ao pedal escaldante, tivemos que parar em alguns momentos, o que acontecia com muita dificuldade já que não conseguíamos desclipar os pés dos pedais. Em alguns momentos precisei apoiar o pé esquerdo no chão, deitar a bike e com as mãos desclipar o pé direito do pedal. Dor, muita dor. Apesar das paradas improvisadas para baixar a temperatura, conseguimos – nos obrigamos – a pedalar todas as subidas apenas para não ter que empurrar as bikes e forçar ainda mais os pés.

Alguns quilômetros depois avistamos a Vila União. A empolgação foi tanta que eu simplesmente desliguei. Numa descida, por milésimos de segundos apaguei do mundo e freei apenas com a mão esquerda. A freada com o freio da frente me lançou ao chão (Luli, a Ferrari saiu ilesa!). Susto, alguns ralados no braço e joelho, porém nada demais.
Na chegada à vila, na sede e com o radiador fritando, Dioguito bateu numa casa e quase no desespero ele fala: “Moça, pelo amor de Deus, me arruma uma água gelada?”. A resposta dela o fez engolir a seco o que já não tinha mais para engolir: “Ôh moço, me desculpe mas não tenho geladeira não!”

Para o alívio dele – nosso -, ela prontamente emendou: “Pera aí, que vou ver se arrumo algo”. Em poucos minutos ela retornou com uma PET de 2 litros congelada de água e um refrigerante gelado, que tinha conseguido gentilmente com uma vizinha. Bebemos, dividindo com a equipe dos animados Grilos.
Muitas subidas depois, chegamos à mais uma transição em Cajuíta.

Casa de Daniel
Fizemos uma transição bem lenta, pois precisávamos tratar os pés o suficiente para aguentar os mais de 30km de trekking seguintes, com muito desnível. Teríamos algumas serras para atravessar, o que com certeza seria muito difícil dada as condições dos pés.
Pizza saborosa e recepção calorosa dos apoios, moradores e principalmente da crianças da pequena cidade. Alegria imensa ao recebermos o carinho da molecada. Um deles, inclusive nos serviu de geladinho – aquele sorvetinho de saquinho que lembra infância -. Tudo de bom! As enfermeiras da organização cuidaram dos nossos pés e, por volta das 16h30 (acho que da quarta-feira), com um belo incentivo de todos, continuamos nosso caminho.


Como já era esperado, uma dura subida até a trilha. Nossa progressão já era muito mais lenta que o trekking anterior. Levamos muito tempo até o PC seguinte e o cansaço, de novo, já queria atrapalhar a navegação.
Já estava de noite quando os meninos pediram para descansar. Mas com a proximidade do horário de corte, discordei e pedi para tentarmos mais um pouco. Lembro de ter dito algo do tipo: “Temos que tentar! Não podemos parar agora e depois ficarmos com a sensação de não termos tentado. Mesmo que a gente não consiga chegar antes do corte, pelo menos teremos tentado”. Acho que foi suficiente, pois todos concordaram. Paramos apenas para uma rápida refeição, um macarrão com azeite e orégano, que estava delicioso.

Atravessamos lentamente mais um morro até entrarmos numa estreita trilha, onde encontramos mais uma vez com a Grilos e sua animada capitã Cal, esposa do Zolino, que aliás há tempos tinha parado a prova. Em meio a brincadeiras do tipo: “E aí Cal, como é ficar na frente do maridão?!?!”, os meninos debatiam a navegação com a também navegadora. Seguimos juntos até uma pequena vila, que para nossa alegria momentânea seria o PC-V (Qual o número do registro de energia da placa solar da casa de Daniel, que fica próximo a uma antena parabólica?). Vila nova, vários postes de energia, nada de parabólica e muito menos de placa de energia solar. Com tantos postes e fios, como é que encontraríamos uma placa de energia solar, aquela hora da noite e numa vila que parecia abandonada?

Depois de várias idas e vindas, resolvemos parar para dormir, enquanto a Grilos continuava sua incansável busca. Abrimos nossos cobertores de emergência e dividimos um pequeno espaço, porém coberto, de uma casa trancada a cadeado. Chovia muito, enquanto a Cal nos avisava quais caminhos não seguir. De tempos em tempos ela voltava com notícias do tipo: “Pessoal, não pegue a trilha tal, porque não vai dar em nada”. Sonolentos, apenas respondíamos: “Huhumm!!”

Cerca de uma hora depois, levantamos, calçamos duramente os tênis, vestimos as mochilas e saímos rumo a… “Pra onde temos que ir?!”. Um olhou para o outro e unânimes decidimos dormir até o amanhecer. Faltava pouco tempo para o dia clarear, então voltamos para o conforto do chão de cimento, seco e coberto.
Acordamos com o Di gritando “é o Daniel, é o Daniel…” Sonolenta, só pensei: ‘mas o Dani nem veio pra prova’, lembrando de um amigo da aventura. Enquanto isso, o Di gritava para o Daniel – o da casa onde seria o PC-V que procuramos a noite toda: “Daniel meu filho, onde é tua casa?”. Nem imagino o que possa ter passado pela cabeça do cidadão, pela minha só uma sensação de alívio e frustração quando ele apontou para um lado disse: “É só seguir reto!”.




Notei a Grilos se espremendo numa pequena cobertura, que mal dava para fugir da chuva. Coitados! Saímos juntos para uma nova tentativa, desta vez pelo caminho correto. Nossa lenta progressão, fez com que perdêssemos a companhia tão alegre da equipe. Além do mais, estávamos todos cabisbaixos com o corte certo. Nos separamos alguns metros, todos à vista, porém isolados cada um com seus pensamentos. Em meio ao caminho de lama, o dia ainda clareava quando me bateu uma imensa tristeza ao pensar que uma das minhas missões na prova não seria cumprida. Levar aqueles três malucos até a linha de chegada era uma missão pessoal difícil, porém possível se não fossem os dolorosos imprevistos que surgiram ao longo dos duros trechos que já tínhamos percorrido.





No entanto, o coração apertado foi se libertando à medida que o Sol tentava romper as nuvens ainda carregadas e que insistiam em nos acompanhar todas as noites. Cada raio de Sol que batia na imensidão rochosa que nos cercava era como um consolo, como se alguém pudesse mandar um recado em alto e bom som: “Ei, dá uma olhada à sua volta. Quantas pessoas no mundo tiveram o privilégio de estar aqui? Quantas pessoas no mundo puderam compartilhar com amigos tão especiais momentos como este? Quantas pessoas no mundo tiveram a coragem de chegar até aqui?”. Poucas, muito poucas!








Com a resposta engasgada na garganta, finalmente encontramos a casa de Daniel, que aliás, não tinha placa de energia solar. Apenas alguns metros para frente é que encontramos a tal placa, com parabólica e tudo. Na dúvida, anotamos e fotografamos ambos os números de registro.



Antes de começar a subida de travessia da serra seguinte, o morador da casa da placa gentilmente nos doou algumas bananas. Nosso café da manhã agora estava completo. Subimos lentamente, porém constantes, parando algumas vezes apenas para o Ri recuperar ou pelo menos tentar aliviar os pés.

Um tempo depois chegamos ao topo, onde havia uma casa de pau a pique, com árvores frutíferas em volta. O Gu quase acabou com as mexericas de um pé, praticamente só sobrando o pé de limão para o Diogo degustar. A On the Rocks nos passou enquanto esperávamos o Ri chegar ao topo. Passei alguns gomos da mexerica para o Maurinho, ele sorriu e logo seguiu o caminho.



 O martírio
Com tanta dor, subir a serra pela trilha fechada, técnica, molhada e lameada já não tinha sido fácil para ninguém, muito menos para o Ri, cujos pés estavam horríveis. Descer em terreno semelhante já indicava o quanto seria sofrido concluir o trajeto.
Começamos a descida lentamente e mesmo assim o Ri mal conseguia acompanhar. Reduzimos e nada. Os meninos já não me deixavam ficar ao lado dele, pois diziam que o ritmo piorava porque ficávamos conversando demais.

Um pouco mais para baixo o Di vira para o Gu e fala para continuarmos na frente, para aproveitarmos para limpar os pés e descansar. Seguimos lentamente, parando várias vezes para esperar. Apesar de já não mais vê-los, achávamos que o tempo de espera a cada parada seria suficiente para não distanciarmos tanto. Em uma das paradas, quase sendo engolidos por pernilongos, uma equipe passa com o recado de que nossa outra dupla continuava vindo, porém devagar, muito devagar. Disseram para não nos preocuparmos que estava tudo bem. Com o recado, seguimos o combinado e continuamos nossa lenta descida até finalmente chegarmos a uma casa. A trilha de lama estava muito pisada pelas equipes que já tinham passado, então não nos preocupamos com possíveis perdidas.




Dois homens pintavam uma casa em reforma. Pedi para nos abrigarmos na varanda e eles prontamente nos receberam com café fresco e banana da terra cozida. Com o Gu dormindo e recusando o café, tomei os dois copos gigantes e comi só parte da banana, guardando o resto para os meninos. Dormimos ao som e notícias locais, coisas assustadoras tanto pelas músicas quanto pelo noticiário homicida. Mesmo assim, insuficientes para atrapalhar nosso sono pesado.

Acordamos e nada dos meninos. Revezamos a vigília da entrada da varanda, com medo deles passarem direto. Uma hora e nada, duas horas e nada, três horas e o desespero batendo. Debatemos a situação, decidimos voltar apesar dos pés explodindo de dor. Os pés do Gu estavam em carne viva e as unhas infeccionadas. Voltar poderia trazer mais um problema, pois ao invés de um seriam dois que talvez precisassem ser resgatados. Calculamos nosso tempo de decida, fizemos uma regra de 3 e chegamos a conclusão de que eles levariam pouco mais de quatro horas para descer.

Em meio ao debate, eis que chega um motoqueiro, vestido com a camisa da organização. Anderson era o nome dele. Ele olha pra mim e diz: “Equipe 10, seus apoios estão desesperados esperando vocês. Que alegria encontrar…”. Acabei interrompendo a comemoração soltando que dois ainda estavam na trilha, sendo que um estava com os pés destruídos. Ele arregalou os olhos e para aumentar ainda mais minha agonia ainda disse: “Pra piorar o rádio não funciona nessa região. Fui eu que levei a organização nessa trilha e o rádio não funciona por aqui”. Ahh que beleza! Equipamento obrigatório que não funciona, era tudo o que precisava ouvir.

Pedi para que voltasse para a cidade e pedisse para que nossos apoios viessem nos encontrar. O Thiago estava acostumado a resgatar equipes perdidas em provas de aventura. Não era o caso, mas ele poderia facilmente chegar até os meninos e, se fosse preciso, poderia carregar o Ri. Em pouco tempo, o rapaz da organização estava de volta, com os apoios assustados, pois ele erroneamente havia informado que um dos atletas estava com hipotermia e outro não ia nem pra frente nem pra trás. Hipotermia na Bahia? Fala sério!

No meio da confusão, o Di aparece dizendo que o Ri estava logo atrás e que eles tinham sofrido muito com a descida. Fui ao encontro do nosso companheiro e por incrível que pareça ele estava sorrindo. Uma sensação de alívio indescritível nessa hora. Peguei a mochila dele e conversamos. Sem acreditar ouvi da boca dele: “Vamos continuar?” Respondi que dependia dele e seria ele quem iria decidir. Resposta imediata: “Vamos continuar. Só preciso limpar meus pés”.


Superação, determinação e talvez um pouco de insanidade, o fato é que com os pés limpos, seguimos para os 10 km de estrada que ainda faltavam para chegar à cidade.

Calor humano
Um passo de cada vez e assim continuamos rumo à Guaratinga. Para reativar ainda mais os ânimos, o maridão e o Carcaça – da equipe Ekos, que infelizmente precisaram parar a prova – nos encontraram nesse trecho e nos fizeram companhia até a cidade. Com as conversas renovadas e histórias parcialmente contadas pudemos completar aquele fatídico trecho.


Após pouco mais de 26 horas totalmente sem dar notícias, voltamos à civilização. Na cidade de Guaratinga fomos recebidos como heróis, com direito a foguetório organizado pelo staff Anderson, aplausos, autógrafos e muitas fotos e filmagens. Outra cena marcante aconteceu nesta cidade, quando com um bebê recém-nascido no colo, uma moradora esticou os braços para o Gu e pediu para que ele segurasse a criança a assim ela pudesse fotografar a criança. Todo sujo ele hesitou, até que a mãe novamente pediu por favor, dizendo que no futuro iria mostrar para a filha que o Ecomotion um dia havia passado por ali.

Recepção extremamente calorosa e alívio para aqueles que buscavam notícias nossas.

Cantoria na bike
 
Com o corte, a bike de 100 km foi reduzida para pouco mais de 60km, dos quais a metade em asfalto. Recordei de alguns acidentes de provas passadas, em que pessoas dormiam sobre as bicicletas, sem controle algum do sono e muito menos dos movimentos. Descidas com vento na cara poderiam facilmente nos relaxar e fazer com que perdêssemos a atenção.

Alertei a todos e pedi o máximo de concentração. Para ter certeza de que todos se mantinham acordados, pedi para o Di puxar umas cantorias, mas o gosto pela música sertaneja só dava mais vontade de dormir. Sugeri algumas opções trash, bem ao estilo ‘fim de festa de formatura’. Ótimo! Foi o suficiente para todos entrarem na brincadeira.

O repertório já estava acabando, quando terminamos o trecho de asfalto em Itabela.
Embora o Ri e o Di estivessem esgotados, consegui convencê-los a continuar um pouco mais pela parte de terra. Até agora não sei como não me xingaram ou me amarraram em alguma árvore pelo caminho. Talvez porque o Marco estivesse na escolta obrigatória, já que o trecho tinha sido por rodovia. Sorte minha!

Seguimos alguns quilômetros mais e novo pedido para parar. Respondi para irmos só um pouco mais, pois tínhamos combinado de parar apenas numa certa vila. A estratégia aqui era tentar rodar a quilometragem máxima, incluindo os trechos mais íngremes, antes de pararmos para dormir, deixando o mínimo de pedal final antes do longo remo de 54km. Tentava fazer com que pudéssemos descansar ao máximo antes do remo.

Dormimos como bebês no local combinado, apesar dos cães que insistiam em ladrar a noite toda. O relógio tocou, sentamos e o Ri solta um “Galera, ainda estou cansado. Podemos dormir mais 10 minutos?”. A resposta unânime foi um belo ‘NÃO’, então levantamos, calçamos as papetes e saímos para o trecho final em estrada de terra, agora com pouco desnível.

Campeões
Em pouco tempo após o retorno ao pedal já estávamos acordando apoios, staffs e equipes que dormiam na última transição antes da chegada. Nossa alegria era tanta e aos gritos ‘SELVA!!!’ que muitos acharam que éramos da equipe que disputava o Top 10. Não éramos, mas comemorávamos como se estivéssemos talvez no Top 5.

Esclarecimentos à parte, conversamos com a Rose, da Papaventuras/Família Extrema. Impressionante o alto-astral dessa mulher. Cruzamos com a equipe a prova toda e em TODOS os momentos ela estava feliz, sorrindo e nos incentivando. No bate-papo, ela nos contou que a Oskalunga tinha sido a única equipe sem corte a entrar na água. Traduzindo, a equipe que praticamente tinha abandonado a prova no primeiro dia, que continuou apenas por incentivo dos próprios apoios e com a condição de apenas passear e que havia dividido a água da sorte com nossa humilde equipe era a grande campeã do Ecomotion 2011.

Última transição


Com o corte, só poderíamos iniciar nosso último trecho da prova após às 9h30. Aproveitamos as horas livres para confraternizar com nossos apoios, agora reforçado com o Má e o Carcaça. Para nossa alegria, um belo banquete foi servido, um prato gigante de miojo, temperado com salsichas em conserva, palmito, azeitona e azeite. Hummm, delícia!!! Sucos, doces e outras guloseimas completaram nosso café da manhã antes de mais uma soneca chuvosa, mas agora sob a tenda-spa emprestada pelo João, da Aksa.




Canoagem
O acesso ao rio se dava por uma estreita e escorregadia trilha. Como o Ri mal conseguia apoiar os pés no plano, o Thiaguinho resolveu ajudar carregando-o nas costas na descida para o rio. Apesar da boa vontade, milésimos de segundo separaram o “Hum, Tá bom isso!!!” do Ri do escorregão certo do dois. Apesar do mix de risos e gemidos, ninguém se machucou.




Entramos na água já sob Sol forte, em ritmo constante, porém confortável. Afinal, seriam 54km de canoagem, que precisariam ser bem administradas devido ao calor intenso e cansaço evidente. O fluxo do rio ajudava nossa progressão, mas a cadeirinha do barco escorregava, o que acabou incomodando o Ri. Ele e o Diogo pararam de remar para ajustar a amarração, enquanto nós continuamos ritmados.

Poucos minuto, depois, ouvimos gritos. Olhamos, tentamos entender o que acontecia e a única frase compreendida foi “Volta, Volta, Volta!”. Voltamos. Remamos contra a forte correnteza do rio até alcançá-los e já questionando aos gritos “O que aconteceu?!”. Ao ouvir a resposta pensei “e agora?” e depois “mato o Ricardo agora ou depois?”. O Ricardo havia perdido o remo.

Risos, gargalhadas, muitas gargalhadas dei quando contaram que ele só percebeu que o remo havia caído na água depois de ajustar a cadeirinha e só depois de se alimentar. A cara de Gato de Botas que ele fez é indescritível. O que fazer numa hora destas? Rir, lógico.

Com o meu remo emprestado, os dois subiram o rio mais um pouco, enquanto o Gu e eu agarrávamos algumas folhagens da margem para esperar por eles e ao mesmo tempo observar se o remo descia com a correnteza. Perdemos alguns minutos, mas logo eles estavam de volta com o remo fujão. Ufa!!!




Seguimos nossa longa jornada aquática, com a correnteza favorável se reduzindo a cada quilômetro enquanto entrávamos em áreas alagadas. Bicicletas amarradas dentro de canoas; gados presos em espécies de gaiolas suspensas; famílias aproveitando a sombra debaixo das muitas palafitas enquanto a maré estava baixa; e outras aproveitando a mesma maré para se deslocar pela pouca faixa de terra que emergia da água. Cenas de Brasil!
Chegada
 
Após 6h30 de canoagem, finalmente avistamos nossos apoios à margem do rio, bem próximos à balsa. Muitas vozes de incentivo, inclusive dos muitos desconhecidos que se deslocavam para Arraial D’Ajuda. Remamos os metros finais empolgados pelo som do microfone do Jeff, que anunciava nossa chegada.

Apesar da nossa alegria, faltavam alguns metros mais. A organização nos obrigava passar direto pela chegada, para deixarmos os barcos mais próximos do caminhão de transporte. Fomos forçados a deixar a comemoração para trás só para poupar trabalho do organizador. Sem problema!!!




Depois de tudo o que já tínhamos passado ao longo de uma semana, aquilo não era nada. Praticamente arrastar o Ri de volta para o pórtico pelas ruas de Porto Seguro levou mais de 30 minutos, mas isso não importava.




No ritmo baiano, cruzamos o pórtico por volta das 16h30 de sexta-feira. Cinco dias depois da largada em alto-mar em Prado, encerramos nosso desafio, felizes e realizados.



Ah! E no pórtico de chegada ainda pagamos as 10 flexões Selva.


INFANTARIA?!?!
SELVAAAAAAAAAAAAAA!!!!